Leitura e linguagem-Rodrigo Avelar


LEITURA E LINGUAGEM HOJE: a busca pelo olhar da sociedade
 RODRIGO AVELAR[1]
  RESUMO
 O estudo aborda a importância da leitura para a formação do indivíduo, sendo que o essa caminho está intimamente ligado com a educação, o que leva a relacionar o tema e a escola, e, por conseguinte, ao ensino de língua inglesa. Para a construção dessas idéias foram utilizados vários autores, sendo alguns deles Ezequiel Theodoro da Silva, Martin Heidegger, Vygotsky, Mikhail Bakhtin, Roger Chartier entre outros. O objetivo desse trabalho é analisar a sociedade atual, a fim de desvelar a visão da mesma em relação a leitura, a linguagem e o papel do indivíduo dentro do fenômeno. Após esse processo, busca-se aqui a construção das bases teóricas para o ato de ler como projeto de existência. Por fim, utiliza-se essas formações para analisar os elementos coercitivos da sociedade, que são a ideologia e a globalização e como eles trabalham com o indivíduo.

1 INTRODUÇÃO
 
A comunicação ganhou ares de habilidade de suma importância para o indivíduo nesse mundo globalizado em que vivemos. Para conseguir alcançar os objetivos traçados durante sua vida, o ato de comunicar se torna vital para o homem, sendo assim que ele transmite seus pensamentos e convicções sobre os assuntos e acontecimentos da sociedade. Para que isso se viabilize, a linguagem está presente em todas as esferas, dos conhecimentos gerais aos mais específicos, permitindo que o indivíduo conclua seu ato de comunicação.
Entretanto, do outro lado desse caminho, completando e tornando contínuo esse ato, está a leitura, habilidade pela qual o homem apreende os conhecimentos e os torna seus, para a partir desse ponto transmiti-lo. Entre os saberes apreendidos está a própria linguagem, mostrando que uma não pode ser viabilizada sem a outra. Por conta disso, se faz necessária a busca pelo retrato da leitura e da linguagem dentro da sociedade atual.
Após a analise de algumas teorias sócio-interacionistas e humanistas, tendo com principais autores Bakhtin, Vygotsky, Heidegger, Hegel, Gadamer e outros, surge o aspecto da leitura dentro da linguagem, e também o papel do homem na sua vivência e na construção da sociedade. Por esse motivo, foi escolhida como foco principal a leitura na visão de projeto de existência.
Faz-se necessário nesse momento elucidar o panorama da leitura e da linguagem nos dias atuais. A partir desse confronto, são enfocadas as bases teóricas que viabilizarão a leitura em uma visão de projeto, tendo em vista que esse movimento deve envolver muito mais o indivíduo, partindo dele a intencionalidade da linguagem, e, conseqüentemente, do ato de ler.
Sendo estas bases estabelecidas, surge a necessidade de uma reflexão e uma análise sobre os elementos coercitivos que atuam na sociedade, influenciando diretamente as visões sobre a linguagem e a leitura. Como nesse contexto histórico atual esses fatores se encontram muito presentes, foram postos em foco a ideologia e a globalização em confronto com o ato de ler na visão de projeto existencial.
2 LEITURA E LINGUAGEM HOJE

 Após conhecer como se deu o desenvolvimento da leitura e da linguagem através da história da sociedade humana, houve a constatação de que o ato de ler e a construção da língua estão intimamente ligados, influindo no crescimento e aperfeiçoamento uma da outra.
A estrutura do ato de comunicar, no qual está inserida a leitura, permite que o indivíduo leitor se socialize, se comunique com outrem, sendo ele o receptor e o autor de uma determinada fala contida no texto. Por conta desse processo é que se torna possível a aquisição da linguagem durante o desenvolvimento do ser humano, tornando-o capaz de se integrar ao mundo como um todo, ou seja, podendo tornar o ciclo comunicacional completo, pois através da língua o indivíduo pode se colocar, transmitir seus pensamentos e receber as idéias dos outros para assim ocorrer um diálogo completo.
Com o intuito de melhor entender esse processo social é necessário que a leitura e a linguagem sejam situadas no tempo e que as mesmas abram o caminho para conhecê-las nos dias de hoje, fato esse que auxiliará nos próximos passos que essa pesquisa fará.
Por esse motivo, é necessário que se elucide o olhar contemporâneo sobre a língua, que, pela proximidade com a leitura, irá trazer conseqüências para ambos.

O que torna a lingüística um caso à parte é que, na tentativa de compreender seu objeto mesmo, isto é, da própria linguagem – o que não acontece num campo do sabe como, por exemplo, a botânica, onde o pesquisador estuda a flora e recorre à linguagem para descrever o seu objeto de estudo e posteriormente documentar e divulgar os resultados (RAJAGOPALAN, 2008, p. 23).

Cita-se aqui a lingüística pelo fato dela ser a ciência responsável pelo estudo da língua, e, por conseguinte, ser determinante para a visão social sobre a linguagem. A partir de conceitos oriundos da visão empírica, que tem como maiores representantes as ciências naturais, o cientista da língua busca isolar as partes a serem estudadas, tornando a coleta de dados a mais objetiva possível, prevenindo que o resultado final seja prejudicado, ou melhor, contaminado.
Dentro desse pensamento, pode-se ter uma base em Saussure (1995) onde ele define a língua como objeto da lingüística, sendo este modelo seguido para nortear as pesquisas na área. No entanto, ele também completa seu raciocínio “separando” a língua da linguagem, dizendo que ela deve se tornar objeto de estudo dentro dos fatos da linguagem. Depois da aparente separação, língua e linguagem são unidas, onde a primeira é tida como fato social, que só se completa dentro da sociedade. Esse meio social é o detentor da linguagem, que existe independentemente do indivíduo.
Apesar das diferenças conceituais, Bakhtin (1998) também coloca a linguagem e a língua como um fenômeno social, mas entra em conflito com Saussure na intencionalidade, pois na sua visão, apesar da estrutura lingüística pertencer a sociedade, para fins de organização da fala, o discurso só ganha sentido a partir da ação do homem sobre a palavra, ou seja, os fatos sociais que influenciam a língua através do ato da fala do indivíduo.
Talvez, por conta de uma visão equivocada, o olhar metodológico sobre a pesquisa da linguagem se tornou em alguns momentos reducionista, mas isso não é um fato exclusivo da lingüística. As ciências humanas, de um modo geral, tomaram o caminho de isolamento do objeto de pesquisa, ignorando seu ambiente social e as coerções que o mesmo exerce sobre o alvo do estudo.
A linguagem sofreu com a “gramaticalização”, e, conseqüentemente a leitura, que andam juntas no processo de desenvolvimento do indivíduo social.

Da mesma forma que a língua é conceituada em termos de tudo ou nada, os falantes dessas mesmas línguas também são classificados em termos categóricos, isto é, como nativos ou, se não, obrigatoriamente não-nativos em relação a qualquer língua especifica (a qual, por sua vez, passa a ser “materna” ou, se não, forçosamente “estrangeira” com respeito a cada um daqueles falantes), não permitindo, dessa forma, qualquer possibilidade de categorias mistas (RAJAGOPALAN, 2008, p. 27, grifo do autor).

O que é importante frisar aqui é o conceito da língua como tudo ou nada, que é exatamente o que a pesquisa empírica em lingüística muitas vezes acaba fazendo, desconsiderando qualquer fato inerente a sociedade a qual a língua pertence. Da mesma forma, os indivíduos são colocados de fora do processo de pesquisa, no que diz respeito as transformações que ele pode ocasionar no objeto de estudo, mas, em contra-partida, o mesmo é inserido em categorias e classificações fechadas.
Por conta disso, a linguagem e a leitura se tornaram muito técnicas, onde a primeira se caracteriza pelo conhecimento estrutural e gramatical, e a segunda, contida na primeira, como um simples processo de decodificação de signos lingüísticos, a fim de absorver o que lhe é trazido por eles.

[...] Não basta simplesmente estudar gramática para se expressar satisfatoriamente, ou para compreender o que se lê. Há que se compreender a linguagem como atividade mental que realiza o pensamento pela ação da língua [...] (RIBEIRO, 2003, p. 118).

Apesar do marcante predomínio da técnica hoje em dia, tanto nas teorias existente quanto na prática, pode-se notar um movimento de mudança nas bases teóricas que vem sendo formuladas. Com isso, o indivíduo esta ganhando seu espaço dentro dos estudos lingüísticos, e, conseguintemente, nas pesquisas sobre a leitura, trazendo maleabilidade aos resultados e mais qualidade e confiabilidade aos mesmos.
É importante mostrar aqui que no momento a linguagem e a leitura ganharam grande importância, mas ainda estão em um estágio embrionário, isto é, estão em processo de modificação, pois a visão geral que permeia as duas, que é a reificação da palavra, vem sendo desconstruída para que haja um equilíbrio estrutural entre palavra, indivíduo e sociedade, mostrando o que acontece na vida real.
Por enquanto, fica constatado que a visão oriunda dos primórdios da história da linguagem e da leitura, que era da construção em sociedade de ambas, se transformou até chegar hoje a esse conceito técnico, que descarta o indivíduo e coloca a palavra, a língua em primeiro lugar.
Por conta disso, a partir dessa constatação surge a necessidade de se investigar a leitura e a linguagem com o indivíduo, buscando caminhos que justifiquem e elucidem a urgência de uni-los em um único caminho. Daí a importância de um embasamento profundo sobre o indivíduo e o seu pensamento.
3.1 BASES TEÓRICAS PARA UM PROJETO DE LEITURA
 É inegável que a linguagem e a leitura vêm juntas através dos anos se desenvolvendo e criando novos caminhos de crescimento, ou não, dentro do convívio social, por mais que se tente negar a variável “sociedade” dentro da evolução de ambas. Anteriormente fora comprovado os seus passos paralelos no decorrer da história humana, sendo que a cada descoberta, a cada novo avanço, a cada novo modo de lidar com a língua e a leitura dentro da comunidade, esses fatores as influenciou mutuamente.
Contudo, como se elucidou no começo desse estudo, o posicionamento dos profissionais que investigam a linguagem, e, por conseguinte, a língua, não tem considerado o indivíduo e a sociedade, já que a segunda, mesmo influindo sobre os atos do primeiro, é formada pelos homens e seus pensamentos sobre o certo e o errado, refletindo isso em sua vida e na civilização em geral.
Eagleton (2005) elucida de maneira direta essa idéia sobre a sociedade e os indivíduos, seus membros:


[...] Nós nos assemelhamos à natureza, visto que, como ela, temos de ser moldados à força, mas diferimos dela uma vez que podemos fazer isso a nós mesmos, introduzindo assim no mundo um grau de auto-reflexividade a que o resto da natureza não pode aspirar [...] (p. 15).


Essa idéia de auto-reflexividade que acaba por impulsionar os anseios desse estudo, que consiste em encontrar novos caminhos para as pesquisas sobre a linguagem e a leitura. Sendo o indivíduo capaz de moldar a si mesmo como o outro, através das coerções sociais, se torna necessário que se esclareça as visões sobre a importância do homem e do seu pensamento na formação social, ou melhor, na construção de suas visões sobre os vários fatos sociais que estão compreendidos na mesma.
Um dos fortes expoentes dessa linha de pensamento são as abordagens funcionalistas e organísmicas, oriundas principalmente dos Estados Unidos, que tentam explicitar o ato de ler através das ciências exatas, tentando quantificar os resultados.


A leitura é sempre colocada como um evento desligado da esfera humana, caracterizada mais como um fenômeno físico que pode ser observado através de lentes de um microscópio. É patente a presença de termos reducionistas em diversos dos modelos descritos: processo, fator, sistema, transmissão, operação, produto, célula, “input”, taxionomia, estoque, etc... O objetivismo do quantitativo impera; a integridade dos atos da consciência do homem, porém, é segmentada (SILVA, 2005, p. 54, grifo do autor).


Essa metodologia de pesquisa está presente no dia-a-dia da língua e da leitura, e pode ser ilustrada pelo fato que os próprios teóricos da lingüística vêm buscando mudar: a reificação da palavra. Ela é trabalhada como um todo, um objeto puro, enquanto o detentor do ato de falar, o indivíduo, não tem sua ação considerada no todo, mas sim em partes, esvaziando a intencionalidade da oralidade.
O falar não surge de um vazio. Muito pelo contrário, vem do pensamento e da vontade do ser em realizar o ato de comunicar-se com o outro, o que torna o estudo complexo e amplo. A partir desse momento, o homem e sua vontade, assim com seu pensamento, serão colocados aqui para justificar e construir uma base sólida visando o surgimento de um novo olhar sobre a leitura dentro do desenvolvimento da linguagem.


[...] A palavra do pensamento originário abriga “o obscuro”. Uma coisa é abriga “o obscuro”, uma outra é tropeçar no obscuro como um limite. Abrigar o obscuro no modo do pensamento é essencialmente diferente de qualquer “mística” ou de qualquer mergulho nas trevas. Uma vez que o pensamento originário pensa aquilo a cuja essência pertence o encobrimento, o obscuro permanece aqui, sempre e necessariamente, um tema do pensamento [...] (HEIDEGGER, 1998, p. 47, grifo do autor).


Não foi a toa que a linha humanista seguida por Heidegger e seus contemporâneos ou seguidores está sendo usada nesse momento. Aplicando esse pensamento a leitura, pode-se ver como o indivíduo é atuante durante o acontecimento. Tudo acaba por gira em torno do verbo “agir”, que se torna o mais importante aqui. A leitura é uma ação dentro do ato de comunicar, onde está a linguagem, e, conseguintemente, a língua, que consiste em compreender o pensamento do outro, tomando posse do conceito e repetindo a ação, numa constante inversão de papéis. O “obscuro” no qual o indivíduo se lança de maneira consciente para desvelar o que está encoberto é o que move o pensamento na leitura.
Por esse motivo, Silva (2005) coloca o ato de ler como “um ato de compreender o mundo” (p. 43), isto é, entender aquilo que acontece a sua volta através do discurso, falado ou escrito, de um determinado autor. Fica bem claro aqui que o ato de ler é praticado não só da maneira que se pensa, o indivíduo com o livro, mas na comunicação em geral, como, por exemplo, numa conversa informal sobre política, costumes sociais, ou até mesmo sobre um jogo de futebol no final de semana.


No conceito de “ser”-consciente (consciência) reside, porém a interpretação até agora e nunca considerada do ser enquanto caráter paradigmático; isto é, enquanto presentificação, ser-consciente (consciência): ter diante de si enquanto presente e assim o ter-diante-de-si mesmo enquanto presente; ou seja, ele é “ratificado” como co-presente – frente à requisição por presentificação (HEIDEGGER, 2000, p. 107, grifo do autor).


Nesse momento se inicia uma reflexão sobre a consciência, como o indivíduo a utiliza e com qual objetivo ela é acessada. A consciência, no interior dessa concepção, se torna aquilo que marca a existência do ser, isto é, a presença ou presentificação. Por intermédio dela, o homem é capaz de refletir sobre o que acontece com ele e no seu redor, sendo o agir guiado pela apreensão dos acontecimentos, que é onde o ser se torna presente.
Heidegger (2000) usa esse conceito para ilustrar o que vem acontecendo no mundo atual, onde ele coloca que a “idolatria da ‘dinâmica’ é apenas a conseqüência desta humanidade que aparentemente domina e que precisa, porém, reconhecer o que nunca pode conhecer” (p. 110, grifo do autor). O que é mais preocupante é a questão do aparente domínio, onde o homem se torna refém daquilo que ele próprio criou, ou seja, o dinamismo, o mundo mecânico, o exato.


[...] Numa meditação que, em vez de “sentidos profundos” e de “erudição”, exige apenas a coragem do simples, o que se mostra é que o homem, aquele que na sua essência “tem a palavra”, perdeu a palavra de todas as palavras. E a perdeu porque diz sem pensar a palavra “ser” como o mais vazio de todos os vazios, sem, no entanto, conseguir jogá-la totalmente fora, porque para fazê-lo teria que perder a sua própria essência (HEIDEGGER, 1998, p. 96, grifo do autor).


Colocando o ser-consciente frete a frente com essa realidade, a consciência perde o porquê de existir juntamente com o vazio da palavra “ser”, pois o que vem acontecendo no mundo é o ato inconsciente, simplesmente regido pelas leis que o indivíduo criou. Daí vem a sensação de falso controle, pois na realidade, a sociedade controla o homem, e não o contrário, mas, como toda ação tem uma reação, o ambiente, estagnado nessa visão vazia do ser, “beneficia” pouquíssimos indivíduos, que acabam por usar sua “consciência” do que acontece ao redor inconscientemente contra os outros seres que constroem a sociedade.
Por isso surge a preocupação com o que vem sendo pesquisado e da forma que as pesquisas vêm orientando-se. Se a consciência para o homem desempenha o papel de tornar a ação um ato de existir, de presentificação, a linguagem e a leitura devem trazer o indivíduo dentro de suas concepções, para que a sociedade não tome controle de uma coisa que pertence ao ser individual.
Advindo da consciência, surge a compreensão, que também é colocada como uma “coisa” de suma importância para a humanização. Gadamer (1999) descreve alguns pontos fundamentais usando Heidegger.


[...] Heidegger escreve: “O círculo não deve ser degradado a círculo vicioso, mesmo que este seja tolerado. Nele vela uma possibilidade positiva do conhecimento mais originário, que, evidentemente, só será compreendido de modo adequado quando a interpretação compreendeu que sua tarefa primeira, constante e última permanece sendo a de não receber de antemão, por meio de uma ‘feliz idéia’ ou por meio de conceitos populares, nem a posição prévia, nem a visão prévia, nem a concepção prévia (Vorhabe, Vorsicht, Vorbegriff), mas em assegurar o tem científico na elaboração desses conceitos a partir da coisa, ela mesma” (GADAMER, 1999, P. 401, grifo do autor).


A compreensão é, portanto, fruto do ser-consciente, que busca entender as idéias e pensamentos contidos no meio em que vive ou no contexto em que o discurso foi proclamando ou escrito, tendo em vista a essência do mesmo, não se influenciando por idéias produzidas anteriormente sobre determinado assunto. O fato da ocorrência de distorções no entendimento da metodologia a ser escolhida para tratar de fatos sociais pode vir de longe, algo que é oriundo da formação.
Gadamer (1999) coloca a formação como um ato que vai além de considerações com maior exatidão e cuidado ou de um estudo com maior profundidade. Na realidade, depende mais do ser que de outros fatores. Tem a ver com a abertura a pontos de vista diferentes presentes numa obra de arte ou no passado. Com isso, para que ocorra uma formação verdadeira, é necessário que o indivíduo esteja aberto a universalidade, deixando de lado a si mesmo para elevar-se sobre seu “eu”, podendo olhar-se dentro da universalidade, comparando seus pensamentos com os presentes no universo, para assim, formar a si mesmo genuinamente.
Ao dar esse olhar mais humano às pesquisas sobre a língua e a leitura, saber onde o indivíduo se encontra nos acontecimentos lingüísticos é de suma importância. Para melhor elucidar as idéias expostas por Heidegger e Gadamer, recorre-se aqui a Hegel, para unir o pensamento científico da linguagem e da leitura com o individuo.


Nós devemos por isso, antes de mais nada, pôr-nos em seu lugar e ser o conceito que modela o que esta contido no resultado: somente nesse resultado completamente modelado – que se apresenta à consciência como um essente – ela se torna para si mesma consciência concebente (2000, p. 96).


Quando se inicia uma reflexão sobre o “colocar-nos em seu lugar” vem à mente novamente o problema das pesquisas baseadas em ciências exatas. Ao colocar-se em seu lugar e transformar-se no conceito que modela o resultado, sendo o que se coloca o indivíduo, com toda certeza, o “produto” da pesquisa não poderá ser mensurado. Daí vem a idéia de Silva (2005) sobre o ato de ler, tratando-o como uma ação psicológica do ser, e por conta disso toda e qualquer conclusão oriunda desse estudo será impossível de ser prevista.
O fruto de uma pesquisa sobre a linguagem e a leitura deve respeitar a natureza de seu objeto, ou seja, ser conduzida a um caminho e não controlar o resultado para torná-lo verdade absoluta. Vygotsky (2000) coloca que a “função primordial da fala é a comunicação, o intercâmbio social” (p. 6).
Para cumprir a função social da linguagem, a leitura deve receber um novo olhar, e com as bases criadas a partir dessas várias reflexões sobre o indivíduo e seu pensamento, propõe-se aqui uma orientação da pesquisa sobre o olhar fenomenológico, já que ao trabalhar a sociedade e o ser como variáveis do estudo, é necessário chegar aos fenômenos puros, produzidos através de atos, que origina a denominação da leitura como “ato de ler”.


O objetivo do enfoque fenomenológico em qualquer área do conhecimento é o aprofundamento da experiência imanente através do “retorno às coisas mesmas”. A fim de evitar uma possível polivalência semântica, deve-se tomar esse objetivo como uma postura diametralmente oposta ao método hipotético-dedutivo positivista, que parte de pressupostos já cristalizados entre os investigadores. Conseqüentemente, a expressão “retorno à coisas mesma” (neste caso, o ato de ler) deve ser vista, no horizonte deste trabalho, como o inquérito sobre os fenômenos não adulterados por padrões científicos ortodoxos ou por categorias conceituais pré-concebidas (SILVA, 2005, p. 57, grifo do autor).


Acredita-se que com essa metodologia, o objetivo maior do estudo seja atingido: o retorno ao fenômeno puro, respeitando todo e qualquer movimento oriundo da vontade humana, da intencionalidade do ser. Quando Silva (2005) estabelece a leitura como um projeto de existência, remete-se justamente a essa linha de pensamento, onde o indivíduo como leitor dentro da estrutura comunicacional, local onde esta contida a linguagem, projeta-se para o outro, se coloca para o mundo.
Pensando na linguagem sob esta visão, vem a tona uma fala de Hegel (2000), onde ele diz que a força recalcada em si, constituída por matérias independentes do ser, se transforma em força, e, por conseguinte, necessita exteriorizar-se. Além disso, também coloca que nessa exteriorização, a força se torna tanto “força-em-si-mesma essente, quanto exteriorização nesse ser-em-si-mesmo” (p. 97).
Quando pensamentos no ato da fala, seja escrita ou oral, pode-se ver com clareza esse movimento de existência, de afirmação do pensamento individual. Através da consciência, o ser humano trabalha suas visões, suas idéias, transformando-as em conceitos, concepções próprias, que acham na língua o caminho para exteriorizar-se, ganhar o ambiente e exprimir o que ele como indivíduo pensa. Sem a leitura não haveria movimento de compreensão, formação de pensamento próprio, e sem a linguagem, o canal de exteriorização do conceito individual seria fechado, impossibilitando todo e qualquer modo de socialização.


Falo, ouço; escrevo, leio; volto-me ao outro, comunico-me. Situo-me com os outros; busco a união através das coisas do mundo. Esta busca é mediada por um determinado tipo de linguagem – sem ela inexistiria a possibilidade de expandir as minhas experiências e de participar da “transformação da cultura”. Ganho a minha existência, passo a existir, à medida que me situo dentro do mundo “sígnico” que me envolve, dentro das linguagens captadas pela minha percepção e levadas até a minha consciência [...] (SILVA, 2005, p. 66, grifo do autor).


A partir daqui, é possível definir que, de acordo com a visão que o ser tem do mundo, ele passa por toda sua vivência dentro de um “círculo de existência”, isto é, colocando suas idéias a partir de cada ato que venha porventura a ter. Daí surge o que é o projeto de existência e o porquê de sua importância para o indivíduo. Contudo, falta explicitar de uma maneira mais eficaz em que momento a leitura, a linguagem e o indivíduo se unem para formar uma estrutura comunicacional.
Hegel (2000) coloca que “a força é o Universal incondicionado, que igualmente é para si mesmo o que é para um Outro; ou que tem nele a diferença, pois essa não é outra coisa que o ser-para-um-Outro” (p. 98). Os pensamentos do ser são as matérias que constituem a força, sendo a mesma o conceito puro do “eu” para o outro, impulsionando sua exteriorização através da língua. Esse movimento que forma a estrutura comunicacional é exatamente o que possibilita a socialização, a existência do indivíduo, pois sem isso, o homem estaria fazendo, de acordo com Hegel (1999), “a negação do singular com ‘essente’ no universal” (p. 97, grifo do autor), que teria como única obra e ato da liberdade universal a “morte”, sendo que esta não teria um alcance interior, pois “o que é negado é o ponto não-preenchido do Si absolutamente livre” (idem, ibidem).
Por isso, propõe-se aqui o ato de ler como projeto de existência, pois através do mesmo, o indivíduo é capaz de explorar cada espaço do mundo a seu redor, desconstruir e reconstruir conceitos, situando-os de maneira correta segundo cada característica social marcante, respeitando a presença do outro mas também se colocando respeitosamente.
Formando essa base teórica sobre o “projeto de leitura existencial”, esse trabalho tem o que é necessário para prosseguir em suas análises, entendendo que a leitura tem um valor inestimável na aquisição da língua, caso específico aqui do Inglês como segunda língua, pois trabalhando dessa forma, o estudante será capaz de cumprir seu projeto de existência e não ser dominado pelo projeto de outrem.

3.2 IDEOLOGIA, GLOBALIZAÇÃO E LEITURA COMO PROJETO DE EXISTÊNCIA


Após produzir análises sobre o pensamento humano e o próprio “eu” do indivíduo, constituí-se aqui a visão do ato de ler como projeto existencial, visando maior esclarecimento e capacidade de ação ou interação consciente com o meio em que vive.
Contudo, ao assumir o compromisso com essa conduta de vivência, se junta a ela um peso adicional, ou melhor, uma variante que pode interferir no modo de pensar e agir do indivíduo, ou não: a sociedade. Ficou claro anteriormente que mesmo que se isole a língua como um objeto puro de pesquisa, a mesma não esta livre da ação transformadora ou modeladora do social, onde está contido o ser humano, formador de tal organização e responsável pelo seu funcionamento.
Provou-se com bases suficientes que, segundo um olhar fenomenológico, organizando os fenômenos dentro de uma estrutura social, que homem, linguagem, leitura e sociedade são indissociáveis durante uma investigação compromissada com o real. De acordo com esse pensamento, não existe a possibilidade de tratar a leitura e a linguagem como “coisa mensurável”, quantificável, como, por exemplo, um mapeamento de determinado tipo de vegetal, ou ainda, como dados estatísticos de uma pesquisa de opinião.
Por meio dessas conclusões, se faz necessário que a estrutura onde o indivíduo está contido seja investigada, destacando dois movimentos que tem influência real na linguagem e no ato de ler, conseguintemente. São eles: a ideologia e a globalização. Para que se chegue ao objetivo desse momento do estudo, definamos o papel de cada um dentro da sociedade contemporânea e o que são em suas respectivas definições.


A esse conjunto de idéias, a essas representações que servem para justificar e explicar a ordem social, as condições de vida do homem e as relações que ele mantém com os outros homens é o que comumente se chama ideologia. Como ela é elaborada a partir das formas fenomênicas da realidade, que ocultam a essência da ordem social, a ideologia é “falsa consciência” (FIORIN, 2006, p. 28-29, grifo do autor).


Primeiramente se fala da ideologia, que são as idéias colocadas por outro que acabam sendo tomadas como um modelo social e são seguidas pela grande maioria dos integrantes dessa comunidade. Teoricamente a definição é simplória, porém, frente à visão humanista, ela representa o contrário, o avesso do projeto de existência.
Isso se dá pelo fato de um conceito formulado por um indivíduo se tornar verdade para todos os outros que estão no mesmo espaço social. Esse tipo de “coerção” deixa transparecer que um homem vem se beneficiando de outros homens a partir de suas idéias para chegar a um determinado fim. A esse acontecimento dar-se o nome de alienação. Contudo, novamente é explicitado que, por mais que pareça simples, talvez esse seja o começo do problema.


A sintaxe discursiva goza de certa autonomia em relação às formações sociais, enquanto a semântica depende mais diretamente de fatores sociais. Com efeito, mecanismos como, por exemplo, o discurso direto, podem receber e veicular quaisquer conteúdos, mas estes são determinados pela estrutura social (FIORIN, 2006, p. 18).


A primeira coisa que se destaca aqui, claro, é a presença do elo entre ideologia e linguagem através do discurso. Porém, pensando mais a fundo, esse conceito traz desdobramentos que pode tornar a idéia sobre o que é ideologia nebulosa.
A sintaxe diz respeito à parte estrutural da língua, isto é, a organização do discurso, e sendo assim, realmente não sofre com as coerções sociais. Por outro lado, a semântica trata das coisas da língua que pertencem ao indivíduo, ou seja, criadas pelo mesmo, como, por exemplo, o próprio significado das palavras, e, portanto, passíveis de mudança segundo seus conceitos.
Dunker (2008) coloca a ideologia em dois focos, sendo eles pontos que se ligam diretamente às concepções acima. São elas, a própria definição como alienação e a definição que Hegel coloca como caminho de libertação do espírito.
Em relação com o conceito de alienação fica bem clara a ligação com um cabeça, ou seja, uma pessoa, que é detentora de pensamento, se utilizando da “massa” para agir em grande escala. É exatamente o que se encaixa na ação do governo sobre a sociedade a qual exerce poder. Por outro lado, existe a visão libertadora da ideologia, onde o indivíduo é capaz de retirar o conteúdo, contextualizá-lo, compreende-lo de maneira eficaz, calcando sua ação de forma consciente.
É justamente esse olhar que é enfatizado por Dunker (2008), onde ele acrescenta a utilização política, exemplificada pela crítica de Napoleão dirigida aos ideólogos franceses na época em que se firmou no poder. Já o outro olhar é colocado na visão da tradição alemã, onde a história e a cultura têm um papel importante como componentes ideológicos, o que torna a concepção mais humana.
Para encontrar um consenso dentro dessa dicotomia instaurada dentro da definição de ideologia é necessário buscar a essência do pensamento para entender seu funcionamento. A principal dúvida, talvez a crucial, é saber até que ponto existe alienação e a partir de onde a escolha passa a ser consciente.


Nessa negativa, a pura inteligência se realiza a si mesma, ao mesmo tempo, e produz seu objeto próprio, - a “essência absoluta” incognoscível e o “útil”. Como a efetividade perdeu assim toda a substancialidade, e nela nada mais é “em si”, então ruiu tanto o reino da fé quanto o do mundo real. Essa revolução produz a “liberdade absoluta”; com ela, o espírito, antes alienado, retornou completamente a si; abandona essa terra da cultura e passa para outra, para a terra da “consciência moral” (HEGEL, 1999, p. 37-38, grifo do autor).


Considerando o conceito alemão como um ponto de partida, discute-se aqui a linha tênue entre consciência e inconsciência. Dois termos chamam muito a atenção pelo o que significam. Primeiramente o “em si”, que nada mais é que a ação egoísta. Esse tipo de ato norteia as movimentações da massa, que age inconscientemente, isto é, “pela alienação, entendida como separação e desconhecimento, entre agente e processo, entre fins e meios, que o espírito se encarna em um mundo que se torna estranho a si mesmo” (DUNKER, 2008, p. 187). Normalmente, essa prática é relacionada aos aspectos epistêmicos e políticos, onde se insere o governo, manipulando indivíduos incapazes e compreender a “fala” praticada por esse órgão da sociedade.
O segundo termo é a “liberdade absoluta”, que rege a ação praticada por indivíduos que tem a capacidade de ler o ambiente nas entrelinhas, entender o processo a qual estão sendo submetidos e, a partir de suas próprias conclusões, escolher qual caminho seguir. Isso é o que se trata como consciência na concepção hegeliana, que nada mais é que o uso da liberdade de agir do “eu”.
Com isso, pode-se entender a importância da leitura dentro do desenvolvimento lingüístico, onde o domínio ideológico passa pelo fato de um ser ter a consciência bem trabalhada para exercer sua liberdade de pensamento dentro de uma língua que não é de seu meio de convivência.


A linguagem tem influência também sobre os comportamentos do homem. O discurso transmitido contem em si, como parte da visão de mundo que veicula, um sistema de valores, isto é, estereótipos dos comportamentos humanos que são valorizados positiva ou negativamente. Ele veicula os tabus comportamentais. A sociedade transmite aos indivíduos – com a linguagem e graças a ela – certos estereótipos, que determinam certos comportamentos [...] (FIORIN, 2006, p. 55).


Por essa constatação, chega-se ao ponto em que a ideologia se conecta com a globalização. Através da linguagem, o indivíduo entra em contato com as tradições e costumes daquele povo que detêm a língua. Quanto mais íntimo o homem se torna mais ele mergulha no ambiente social onde determinado idioma circula.
Para entender melhor esse movimento, é necessário que se elucide o que vem a ser globalização. Steger (2003), citado por Kumaravadivelu (2008) define como:


[...] uma série multidimensional de processos sociais que criam, multiplicam, alargam e intensificam interdependências e trocas sociais no nível mundial, ao passo que, ao mesmo tempo, desenvolve nas pessoas uma consciência crescente das conexões profundas entre o local e o distante (p. 130).


Por ser uma visão contemporânea, a visualização dos acontecimentos fica mais nítida, pois é exatamente isto que vem acontecendo. Podem ser notados desdobramentos de situações ocorridas em determinado local em todo o mundo, sendo conseqüências maléficas ou benéficas.
Definitivamente, um dos maiores expoentes, senão o maior, da globalização é a linguagem, o que leva movimento a ser tratado como um conceito comunicacional, pois envolve a língua em vários veículos de comunicação, sendo o principal a internet. Todos esses fatores favorecem para que três características principais do mundo globalizado sejam deflagradas: a diminuição da distância espacial, da distância temporal e o desaparecimento das fronteiras.
Esses efeitos acarretam conseqüências não só de ordem comercial e econômica, mas também em termos de informação, idéias, normas, culturas e valores. Tudo isso está arraigado na língua, que se torna um requisito de aceitação.
Tendo marcado a relação entre ideologia, globalização e linguagem, onde a primeira se insere na língua, que está inserida na segunda, surge o papel da leitura como projeto existencial.


[...] Ter linguagem significa precisamente um modo de ser completamente distinto da vinculação dos animais ao seu meio ambiente. Quando os homens aprendem línguas estrangeiras não alteram seu comportamento para com o mundo, como faria um animal aquático que se convertesse em terrestre, mas na media em que mantêm seu próprio comportamento para com o mundo, ampliam-no e enriquecem-no através do mundo lingüístico estrangeiro. Aquele que tem linguagem “tem” o mundo (GADAMER, 1999, p. 657, grifo do autor).


Ao entrar em contato com uma nova língua, automaticamente o indivíduo também se vê em frente à literatura pertencente a mesma. Lembrando de tudo que a linguagem de um povo carrega um idioma, como seguimento de um tipo de comunicação, que é a dos homens, traz em si toda a cultura e tradição de uma sociedade. Vendo o discurso como uma leitura do real, o estudante-leitor despreparado, ou melhor, que não desvelou seus olhos para os acontecimentos que permeiam os atos sociais, vai agir de maneira inconsciente, isto é, não irá exercer o seu ato de “possuir” a língua, tornando-a extensão do seu vir-a-ser, sendo tomado pela mesma, regido por aquilo que a língua traz a ele.
A leitura se coloca como projeto existencial quando permite o contrário, ou seja, faz com que o leitor entre em contato com os variados recursos do idioma estudado, compreenda o que é passado por ele, contextualize cada fala em seu contexto social e o utilize de maneira a viabilizar a comunicação. A partir desse movimento, o indivíduo passa de dominado pela língua, e, por conseguinte, por suas bases sociais e culturais, para um ser que exprime seu pensamento através daquele idioma, permanecendo em seu estado de existência, pois seus atos são os mesmos, seja na língua em que está presente, formando o ambiente da mesma, seja na linguagem que acaba de aprender.


Eis a hipótese que gostaria de apresentar esta noite, para fixar o lugar – ou talvez o teatro muito provisório – do trabalho que faço: suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade (FOUCAULT, 2000, p 8-9).


Essa suposição exposta acima revela aquilo que deve ser alvo do indivíduo que vem-a-ser através da leitura. Ao conseguir enxergar cada mecanismo da sociedade que controla o discurso, o homem deve ser capaz de guiar sua ação de modo consciente, podendo assim transformar ou até mesmo conformar-se verdadeiramente com a configuração social em que está inserido.
Com isso, fica aqui constatado que a leitura como projeto existencial dentro do ensino de língua inglesa pode ter muito mais ligação com o ato de ensinar e aprender do que com a estruturação disciplinar. Ideologia e globalização são fatores sociais que estão presentes como modeladores do discurso, e, conseqüentemente, do indivíduo, o que acaba por aliená-lo, ou seja, fazendo com que o ser perca sua condição de “ser”, não tendo domínio consciente sobre o agir.
Pode-se pensar em várias frentes, mas ao focar no profissional que lecionará o inglês isso se torna muito mais grave. Um indivíduo só pode dar ao ouro aquilo que tem, isto é, um educador não pode oferecer ao educando uma chance de existir, de descobrir a importância do agir, sem saber como fazê-lo, agindo mecanicamente, inconscientemente.
O exercício da leitura como projeto de existência se faz importante exatamente por isso, pois coloca o estudante e o educador em uma nova posição no que se refere à língua inglesa. Por conta disso, é necessário entender o ensino do inglês e como ele pode ser viabilizado com a ajuda do ato de ler.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após esse pequeno estudo sobre a leitura e a linguagem nos dias atuais foi possível desvelar o retrato que a sociedade tem desses dois elementos e também sobre o seu funcionamento.
Para que isso fosse possível, buscou-se elucidar a visão social sobre a leitura, usando como meio para essa explicitação o ambiente escolar, entendendo que o mesmo age como um espelho da realidade social. Ficou constatado aqui que o ato de ler ainda não foi elevado ao patamar que deveria estar, pois fatores de coerção social presentes na história e no desenvolvimento da linguagem, e, por conseguinte, da leitura, influenciaram o homem e a sociedade a qual ele pertence de uma maneira marcante e negativa. Essa negatividade é principalmente ligada a figura do indivíduo, visto com indiferença pelo ambiente que ele mesmo ajudou a criar, sendo controlado pelo social.
Outro objetivo era o de descobrir qual era o papel do homem na leitura como projeto existencial. Revelou-se aqui que o indivíduo dentro dessa ótica do ato de ler deve construir o seu próprio caminho, tecendo seus conceitos sobre o mundo a partir do confronto com os conhecimentos que circulam na sociedade. Esse movimento permite que o sujeito se projete para o outro, marcando assim a sua existência.
Em torno dessas constatações, é possível perceber que, apesar da importância que ambos os elementos tem dentro da perspectiva fenomenológica, e, principalmente para o desenvolvimento dos elementos presentes na estrutura comunicacional, sendo que esses giram em torno do indivíduo e de seus atos, o próprio homem se coloca fora dessa formação, deixando que a sociedade, algo que o ele criou para poder facilitar seu crescimento e troca de informações, tome o controle do que acontecerá no interior dessa estrutura.
Para que aconteça a mudança de paradigma social é de suma importância que o indivíduo se conscientize do papel que deve exercer na sociedade para que seus atos não sejam uma ação esvaziada, mas sim uma demonstração consciente e completa do agir, utilizando-se da ideologia e do poder de alcance da língua no mundo para o bom desenvolvimento dos seres humanos.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria dos romances. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini, et all. São Paulo: UNESP, 1998.


DUNKER, C. I. L. Discurso e ideologia. In: SIGNORINI, I. (org.) [Re]discutir texto, gênero e discurso. São Paulo: Parábola, 2008, p. 185-213.

EAGLETON, T. A Idéia de Cultura. Tradução de Luiz Celso Borges e Silvana Vieira. São Paulo: UNESP, 2005.


FIORIN, J. L. Linguagem e ideologia. 8 ed. São Paulo: Ática, 2006.


FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 6 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
GADAMER, H. G. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 3 ed. Petrópolis:  Vozes, 1999.


HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito: parte I. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.


HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito: parte II. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.


HEIDEGGER, M. Heráclito: a origem do pensamento ocidental. A doutrina heráclita do logos. Rio de Janeiro: Relume & Dumará, 1998.


HEIDEGGER, M. Nietzsche: Metafísica e niilismo. Rio de Janeiro: Relume & Dumará, 2000.


KUMARAVADIVELU, B. A lingüística aplicada na era da globalização. In: LOPES, L. P. M. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. 2 ed. São Paulo: Parábola, 2008, p. 129-148.


RAJAGOPALAN, K. Por uma lingüística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. 3 ed. São Paulo: Parábola editorial, 2008.


RIBEIRO, O. M. Por uma engenharia da leitura: construindo trajetórias para a leiturização. Linguagem e Ensino, V. 6, n. 2, Pelotas, p. 107-148, jul./dez. 2003.


SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. Tradução de Antônio Chelini, et all. São Paulo: Cultrix, 1995.


SILVA, Ezequiel Theodoro da. O Ato de Ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2005.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


[1] Educador na modalidade de educação infantil, especialista em Língua Inglesa pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá, graduado em pedagogia pela Universidade Cândido Mendes.
Retornar...