sábado, junho 26


A LEITURA E O ACESSO AOS LIVROS 

Tânia Alexandre Martinelli
A quantidade de pessoas alfabetizadas, a média dos anos de escolaridade e a cultura da população servem como parâmetro para verificar como anda o processo de desenvolvimento social de um país. Ninguém duvida de que os livros estão incluídos aí, já que são importantes para a formação intelectual e o enriquecimento cultural das pessoas.
Apesar disso, é comum escutarmos que no Brasil, país de tantos contrastes e deficiências, as pessoas leem pouco. Porém, as notícias a respeito das feiras de livros e festivais literários dão-nos impressão de que ocorre exatamente o contrário: uma grande quantidade de pessoas comparecem a esses eventos e adquirem livros. Muitas delas, inclusive, o fazem pela primeira vez, o que deixa o mercado editorial esperançoso de ter conquistado ainda mais leitores.
Outras pesquisas também indicam que os brasileiros não só leem, como também escrevem. Prova disso é o grande número de materiais enviados a concursos de literatura em todo o país.
Sendo assim, o que podemos pensar diante de tudo isso? Afinal, o brasileiro lê pouco ou não?
Essa discussão pode envolver diferentes aspectos. Um deles diz respeito ao tipo leitor que queremos analisar.
Muitas vezes, quando se fala em literatura, são considerados leitores, ou pelo menos os melhores leitores, aqueles que leem autores renomados, obras consagradas.
Mas nesse tipo de avaliação não se pode apenas englobar a leitura de determinados livros, encarados como modelos de leitura, e desconsiderar as outras literaturas. Há muitos livros que fogem desse modelo, como os de autoajuda, os esotéricos, de culinária, etc. O mercado editorial hoje é o mais variado possível. Não caberia aqui falar sobre, por exemplo, a qualidade, a opção de leitura de cada um, ou mesmo a aceitação ou não desses últimos livros citados por alguns profissionais da literatura considerada modelo de leitura. Aí já seria uma outra discussão.
Sem dúvida alguma, um dos grandes problemas a ser enfrentado hoje, quando o assunto é leitura, é o de que muitas pessoas ainda não têm acesso ao livro, mesmo existindo uma lei para assegurar ao cidadão o direito ao seu acesso e uso. Muitas escolas ainda não possuem bibliotecas e outras, quando possuem, são precárias.
A a Lei do Livro, assinada em 2003,  ressalta a importância do uso do livro como fator fundamental para o progresso econômico, político e social e a promoção da justa distribuição do saber e da renda.  
Na prática, o que acontece é que, para muitos, o livro é um bem muito caro, chegando mesmo a ser supérfluo. Em várias escolas as bibliotecas ainda precisam ser melhor abastecidas (vejamos agora como ficarão depois da lei de 25 de maio deste ano, que obriga todas as escolas públicas e particulares do país a instalarem bibliotecas nas suas dependências num prazo de 10 anos. Sabemos que só a lei não basta.). Ao dialogarmos sobre leitura, livros e cultura tudo isso precisa ser considerado.
Seduzir o leitor, falar que a leitura é uma viagem, é prazer, é conhecimento, é passaporte para um futuro melhor é importante, sim. Mas é importante também que tenhamos consciência de que várias questões precisam ser resolvidas. Promover a leitura, antes de tudo, é garantir os direitos dos brasileiros, é garantir o seu acesso aos livros. Quantos ainda não conseguiram ter acesso aos bens culturais?
A leitura se expandirá no país não só quando tivermos escolas e bibliotecas públicas de qualidade, mas também quando diminuirem as desigualdades sociais.
Aí, quem sabe, possamos dizer que os brasileiros leem muito, pois têm educação de qualidade, saúde e condições dignas de viver. E, claro, muitos livros ao seu alcance.


[*Tânia Alexandre Martinelli nasceu em Americana, São Paulo, em 19 de julho de 1964, local onde reside.
É formada em Letras – Português/Espanhol, pela PUCC e FAM, e durante 18 anos foi professora de Português.
Antes de começar a escrever para os públicos infantil e adolescente, produziu várias crônicas e poesias, algumas delas premiadas e publicadas em livros de coletânea.
Publicou seu primeiro livro em 1998 e nos últimos anos tem-se dedicado integralmente à Literatura infantojuvenil, escrevendo e ministrando palestras para alunos e professores.  ]

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